quarta-feira, 6 de abril de 2016






Construções em Bambu

Na China, ouro verde. No Brasil, madeira dos pobres. Se no gigante asiático o bambu é largamente empregado há milênios - dos hashis (pauzinhos usados como talheres) às estruturas das construções - em terras brasileiras, apesar da abundância, o uso ainda é muito restrito. Na maioria das vezes, o produto atua como figurante em cercas, mobiliário e peças de artesanato. Mas um grupo de pesquisadores de diferentes entidades está trabalhando para mudar esse cenário. É o caso da Ebiobambu (Escola de Bioarquitetura e Centro de Pesquisa e Tecnologia Experimental em Bambu), em Visconde de Mauá (RJ). Fundada em 2002, a escola tem por meta disseminar as técnicas construtivas que utilizam o bambu e outros materiais considerados naturais ou ecológicos, como terra e fibras. "Acreditamos que o bambu é uma opção mais sustentável às madeiras de reflorestamento, auto-renovável e de rápido crescimento. O eucalipto, por exemplo, leva seis anos para ser cortado e o bambu só três anos. Além disso, não é necessário ser replantado", afirma Celina Llerena, arquiteta e diretora da Ebiobambu. Enquanto espécies arbóreas demoram até 60 anos para atingir 18 m, o bambu - considerado uma gramínea - demora apenas 60 dias para chegar a essa altura. A generosidade dos comprimentos dos bambus permite construções mais espaçosas e com grandes pés-direitos. 
 
Pavilhão Colômbia - na Exposição de Hannover 2000
Parte do estímulo à pesquisa vem do sucesso obtido em países vizinhos. "Na Colômbia e no Equador, construir com bambu faz parte da cultura local, ao contrário do Brasil", na Colômbia, por exemplo, existem programas de habitação popular com base no bambu. Na Colômbia, por exemplo, o arquiteto Simón Vélez projetou uma igreja toda de bambu. Além de excelentes profissionais, a Colômbia tem a vantagem de ter matéria-prima abundante, da espécie Guadua angustifolia, mão-de-obra qualificada e equipamentos desenvolvidos especialmente para trabalhar com o material. Situação semelhante ocorre em países como China, Japão e Índia, onde o uso do bambu está consagrado. 
O bambu é uma solução viável e sustentável para combater o déficit habitacional: as casas de bambu são de baixo custo e mínimo impacto ambiental, fáceis de construir, duráveis, flexíveis, adaptáveis socialmente e resistentes a terremotos.



Conjunto Habitacional no Chile







Prédio na Índia resistente a terremotos
http://www.recriarcomvoce.com.br/blog_recriar/arquitetos-indianos-criam-predio-de-bambu-resistente-a-terremotos/

Embora tradicionalmente o bambu seja mais explorado no meio rural, o material tem sido cada vez mais empregado nas edificações urbanas. Em Hong Kong e na Colômbia, é possível encontrar grandes edifícios em construção cercados por gigantescos andaimes de bambu. Outras aplicações temporárias também são frequentes, como em fôrmas e no escoramento de lajes.
No Brasil embora o País tenha reservas naturais do material e condições de plantio, o bambu ainda não é muito utilizado aqui. Segundo um levantamento feito pelo Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), só no Estado do Acre 38% das florestas são compostas por bambuzais naturais. Calcula-se que das cerca de 1.300 espécies desse tipo de gramínea existentes no mundo, 400 delas são encontradas no Brasil.
Ensaios feitos na universidade mostram que os mais indicados para uso estrutural são bambus pertencentes aos gêneros Guadua (conhecido no Brasil como Taquaruçu), Dendrocalamus (denominado Bambu gigante ou Bambu balde) e Phyllostachys pubescens. "Esses são os que apresentam melhores propriedades físicas e mecânicas e por isso são os mais adequados", diz. Celina Llerena explica que os colmos dos bambus têm uma fração fibrosa estrutural que representa até 70% de sua massa. Tal característica confere aos colmos elevada resistência mecânica à tração, compressão e flexão. Além disso, as estruturas são leves, resistentes e flexíveis. "Uma fita de bambu, quando comparada a uma de aço de iguais dimensões, tem maior resistência à tração", argumenta. 

  
Exemplos de tratamento das peças de bambu


Para ela, as desvantagens do material dizem respeito, entre outras coisas, à falta de divulgação das técnicas construtivas e de mecanismos de crédito oficiais para introdução de uma cultura de plantio em áreas degradadas, criando sustentabilidade para a comunidade local, assim como material para ser usado em construções ou como laminados. Apesar disso, Celina ressalta que o bambu, se colhido e tratado corretamente para aumentar a durabilidade (veja boxe sobre preservação), "pode substituir plenamente a madeira e ter o mesmo resultado". Alguns cuidados, no entanto, são fundamentais. "O bambu precisa estar afastado do chão no mínimo 40 cm, sobre uma bolacha de barra chata e fina de ferro, aço, bronze ou sobre bailarinas para, assim, não ter contato com a umidade que sobe do solo." Beirais grandes, complementa a arquiteta, evitam a incidência das intempéries, reduzindo gastos com manutenção. 


Técnicas de preservação do bambuO bambu apresenta baixa durabilidade natural por causa da presença do amido, que atrai fungos. Para prolongar a vida útil do bambu, existem algumas técnicas

  • Observação da idade para o corte: esse é o procedimento mais simples de ser efetuado. Os colmos maduros (com mais de três anos) geralmente são mais resistentes aos ataques de fungos e de insetos, além de apresentarem melhor desempenho mecânico. O maior problema refere-se ao desconhecimento da idade dos colmos, já que a marcação anual, na maioria das vezes, não é feita regularmente.
  • Cura na mata: os colmos de bambu são cortados e deixados para secar na própria touceira, geralmente apoiando-se a base inferior do colmo em uma pedra. Quando as folhas secam e caem, o colmo já pode ser utilizado. Essa técnica, denominada avinagrado na Colômbia, facilita a degradação do amido e da seiva presentes no colmo, aumentandoa durabilidade
  • Tratamento por imersão: os colmos podem ser imersos em água (parada ou corrente), ou em soluções preservativas. Em alguns casos os colmos devem ser recém-cortados. Em outros, pode-se utilizar colmos secos ao ar. Quando feito por aspersão, apresenta pouca eficiência, já que a absorção do produto é feita apenas pelas extremidades do colmo
  • Tratamento pela fumaça e pelo fogo: os colmos recém-cortados são colocados em fogo rápido. Também se pode desenvolver um tipo de defumador que, em bambus alastrantes, provoca o escurecimento dos colmos, tornando-os muito atraentes para fins ornamentais. Aparentemente, o efeito do calor e da fumaça alteram ou degradam o amido, tornando o colmo mais resistente ao ataque do caruncho. Para aplicações em escala comercial devem ser projetadas instalações específicas para esse fim (de preferência com recuperação dos produtos químicos eliminados)
  • Tratamento sob pressão: o uso de pressão torna o processo mais eficiente. O método mais recomendado para colmos recém-cortados é o Boucherie modificado. Bambus secos podem ser tratados em autoclaves (utilizadas para preservação da madeira). Nesse caso, os diafragmas devem ser perfurados para que o colmo não rache durante a fase de vácuo. É necessário também fazer um tratamento preventivo para que, durante a secagem, os colmos não sejam atacados pelo caruncho.

  •  Catedral Pereira na Colômbia

    texto retirado do link: http://techne.pini.com.br/engenharia-civil/108/artigo286055-1.aspx
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